Em 12 outubro de 2013, a adolescente Maria Eduarda Silveira Fernandes, de 11 anos, foi a vencedora de um concurso de redação na cidade de Tatuí, no interior de São Paulo. Com o tema “educação no trânsito”, a garota detalhou o quão importante é ser respeitoso nas vias, não somente cumprindo as leis de trânsito. Prometeu que, quando habilitada, seria gentil e educada no trânsito, além de fazer um alerta aos demais motoristas: “Dirija com cuidado, amigo, pois sua família o espera vivo”. Seu desejo, no entanto, nunca pode ser realizado.
Dez meses e dez dias depois, em 23 de agosto de 2014, todo aquele sonho de Maria Eduarda, acabou. Sua vida foi tirada por um uma irresponsabilidade de um motorista alcoolizado, que forçou a ultrapassagem de um treminhão de cana de açúcar, em local proibido na SP-129, colidindo de frente com a moto na qual estava Duda e o seu pai, Eduardo Ferreira Fernandes, de 39 anos. Ambos não puderam chegar vivos em casa por conta de um ato criminoso no trânsito, que seguidamente continua nas estradas, rodovias e vias brasileiras.
Duda, como era chamada pelos familiares, era um exemplo, desde menina, do que deve ser um motorista. “É preciso ter educação no trânsito, não só para cumprir com as leis, mas, sim, por amor à vida”; a sua e a de outras pessoas também…”, escreveu, no primeiro parágrafo de sua premiada redação. “Se todos os motoristas pensassem dessa forma, com certeza muitos filhos ainda teriam seus pais e muitos pais ainda teriam seus filhos”. A esperança de um trânsito seguro não pode ser cumprida contra si e contra o seu pai.
O responsável pela tragédia pensou em fugir. Ao telefone, segundo testemunhas, confessou que havia matado um rapaz. Ainda não sabia do estado da menina. A garota morreu 20 horas depois. Suas últimas palavras, segundo testemunhas, foi “cadê meu pai?” Após a resposta omissa de que ele estava bem, a garota sofreu o primeiro de vários ataques cardíacos. Os familiares sequer puderam se despedir de Eduardo Ferreira, pois seu velório foi com o caixão lacrado devido ao impacto.
Ainda assim, o responsável segue impune.
O delegado responsável pelo caso alegou que foi apenas um acidente, sem testemunhas. Os familiares, contudo, conseguiram reabrir o inquérito. E os laudos provaram que não houve acidade, mas sim, crime. O martírio, entretanto, continua. Faz três anos que o processo está parado na comarca de Boituva. “Justiça adiada é justiça negada”, diz a irmã de Eduardo e madrinha de Duda, Cristina Couto.
“Dói muito, mas tenho a necessidade de gritar para o mundo que eles foram assassinados. Eu preciso fazer algo para tentar sensibilizar os motoristas, para que tenham mais respeito e amor ao próximo. Que respeitem as leis de trânsito, os limites de velocidade e, principalmente, se beber, não dirija”, diz Cristina Couto, que hoje coordena um abaixo-assinado para a duplicação da SP-129, local onde seus entes morreram. Há a promessa, desde 2007, de início das obras na região, mas nunca saiu do papel.
Um dos apelos de Cristina é pela aprovação da PLC 144/2015, que tramita na Câmara dos Deputados. Entre várias alterações do Código de Trânsito Brasileiro, há a proposta da inclusão do parágrafo segundo do artigo 302, que dá a pena de quatro a oito anos de reclusão e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou habilitação para dirigir em caso da capacidade psicomotora alterada em razão da influência de álcool ou outra substância psicoativa. “Vivemos a mais infame de todas as guerras, que tem levado a vida de milhares de brasileiros e deixado o solo da nossa nação banhado em lágrimas, pois só isso que nos resta”, lamenta a madrinha de Duda.
Fonte e Foto: FenaPRF